O que passa na minha cabeça

Toda mulher, desde que se entende como gente, vive dilemas. Algumas encaram esse dilema eterno com amargura, tristeza, depressão... Outras, com bom humor. E encarar a vida com bom humor é um santo remédio pra rugas! Aqui vou escrevendo as coisas que vou vendo por aí, conto algumas experiências minhas, experiências de minhas amigas, amigos... Claro, sempre preservando a intimidade, algumas coisas que conto não aconteceram bem assim, mas poderiam ser... Enfim, realidade e ficção... São duas possibilidades e ai tem mais um dilema: A vida imita a arte ou vice versa?
Como escrevo numa paulada só, ou seja, sento , escrevo e publico, as vezes engulo uma letra, repito uma palavra. Acabo não fazendo correção do texto por medo de perder a espontaneidade. Então, perdoem meus pequenos errinhos, podem até me mandar um comentário mostrando. Espero que todos se divirtam aqui.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

O lado negro da força.





Fiquei revoltada... é fiquei mesmo. A minha revolta se dá a ignorância e a falta de profundidade das pessoas. Ao se ler uma manchete e se achar entendedor de toda a notícia! Da falta de discernimento e dos discursos populistas que são um grande câncer em nossa sociedade. Desculpe-me a franqueza, mas você ai que defendeu a continuidade para a maioridade penal de 18 anos, acho que não compreendeu do que se tratava.
Primeiro, não se pensou em mandar para cadeia um garotinho pobre que roubou um pão por fome... Nem um jovem viciado que comete pequenos furtos para sobreviver, porque a sociedade o abandonou. Não, falamos de crimes hediondos e os listo para quem ainda não sabe do que se tratam:
  • homicídio (art. 121 do CP);
  • homicídio qualificado (art. 121, § 2º, I, II, III, IV, V e VI do CP);
  • latrocínio (art. 157, § 3º, do CP);
  • extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2º, do CP);
  • extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ 1º, 2º e 3º, do CP);
  • estupro (art. 213, caput e §§ 1º e 2º, do CP);
  • estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1º, 2º, 3º e 4º, do CP);
  • epidemia com resultado morte (art. 267, § 1º, do CP);
  • falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e § 1º, §1º-A, § 1º-B, do CP);
  • genocídio (arts. 1º, 2º e 3º da Lei 2.889/56).
Ou seja, crimes que fogem à condição de humanidade e posso garantir que um adolescente de 16 anos sabe muito bem discernir o que um ato de barbárie.
O discurso dos “contra a redução” é de que só puniríamos crianças pobres e abandonadas. Pois bem, afirmo que pobreza não é condição para mau caratismo, nem acesso a “programas sociais” determina se você é bom ou mau. As redes sociais estão cheias de exemplos de pessoas saídas dos lugares mais pobres e violentos, que conseguiram resistir à grana rápida de um roubo ou de um aviãozinho, aos apelos da sociedade consumista que lhes dizia que precisavam desesperadamente de coisas para ostentar, e seguem suas vidas com dignidade, ostentando o que o ser humano tem de melhor; o caráter e a honestidade.
O que vamos dizer aos pais das quatro meninas que foram tirar uma selfie num ponto turístico de uma cidade do Piauí e foram estupradas, apedrejadas e jogadas de um penhasco, uma nunca voltará para casa. Vamos dizer que eram três crianças pobres dominadas por um adulto predador? Vamos dizer que a culpa é delas, por terem ido a um lugar afastado para tirar fotos com suas amigas? Desculpem-me, mas se eu fosse a mãe de uma delas, eu estaria com vontade de abandonar esse mundo. Eles são adolescentes, mas não são estúpidos! São plenamente capazes de saber o que é certo e errado e eles sabiam, tanto que tentaram se livrar das provas. Eles tiveram escolha, eles podiam ter dito não! Como dizia um grande sábio: você tem sempre escolha, mesmo se colocarem uma arma na sua cabeça e te mandarem fazer algo errado, você tem escolha; mande apertar o gatilho!
E falo isso com propriedade, pois criei dois rapazes, que desde muito cedo sabiam o que era certo e o que era errado, que sempre sofreram as boas ou más conseqüências de seus atos. E se não bastasse isso, convivo há muitos anos com alunos adolescentes e sei que são muito capazes de fazem julgamentos. E por último, meu irmão trabalha em uma unidade da Fundação Casa e tem histórias que dão pesadelos em qualquer um. Ao dizer que são incapazes de pagar seriamente por seus atos, estamos os chamando de ignorantes. E mais, estamos sustentando uma indústria do crime, especializada em utilizar “os de menor” na certeza da impunidade! Ou seja, estamos realmente condenando alguns ao crime e a muitos ao medo.
Não sou a favor de colocarem os adolescentes infratores nessas penitenciarias que temos, mas em unidades especiais para eles, mas que cumpram pena, que podem também ter caráter socioeducativo. Mas eles não podem ser tratados como adolescentes infratores, quem comete um dos itens da lista de crimes hediondos é um CRIMINOSO, independente se tem 16 ou 50 anos.
Mas depois de tudo isso, na verdade o que me revolta é saber que a emenda não passou por puro interesse político, que foram passadas mensagens com algumas orientações, porque o autor da emenda é da oposição e só por isso o “soy contra” predominou em alguns. O que me revolta são as pessoas popularescas sendo usadas para mascarar a real verdade. E o circo armado, com estudantes*, grito e empurra empurra e logo depois os cartazes dizendo “vencemos”. Sorry, mas ninguém venceu, todos perdemos. Este é o lado negro da força, nos dão um poder que não sabemos controlar e nos fazem acreditar que o que é ruim, é bom e vice versa. Nos deixando cegos ao que realmente acontece.

* Preciso fazer um comentário sobre isso: a grande maioria dos estudantes não sabe realmente acontece, fui adolescente e estudante em uma época de protestos contra ditadura, diretas já e assisti aos “caras pintadas” com muita atenção, lendo jornais todos os dias, vendo vários telejornais (os tendenciosos, os sensacionalistas, os “quase” imparciais”), as revistas editadas na época e posso dizer: duvido que meus colegas sabiam realmente o que faziam nas manifestações, muito foram para matar aula! Se para mim, foi difícil julgar e separar joio de trigo, imagina agora, num tempo no qual a notícia muda a todo tempo e a informação é curta e sem profundidade?

E só para que se lembrem: o líder estudantil Lindberg Farias, líder do movimento dos cara pintadas, que lutava contra a corrupção no governo Collor,  é hoje Senador e está sendo investigado na Lava Jato. Por isso, meus queridos, cuidade nem tudo que reluz é ouro!

terça-feira, 17 de março de 2015

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não deveria ... (*)

Desmentindo o que venho dizendo a muito tempo... Eu gosto de novela e acreditem, às vezes até assisto. Não tenho é muita paciência para assistir. Mas primeiro e último capítulo, é sagrado.
E como sempre, ontem, não foi diferente. Afinal, me deu uma curiosidadezinha para ver a Maria de Fatima e a Carminha juntas...
Mas, sei lá, acho que estou ficando mesmo velha, ou crítica demais, ou chata, ou cricrí... Fato é que fiquei absolutamente indignada! O que raio foi aquilo? De A a Z foi me jogada goela abaixo toda podridão da humanidade, em apenas uma hora, acho que um pouco mais. Começando por assassinato, banalidades, crime, passando por mentiras, trapaças/traição, violência e terminando na simples constatação; zero de cultura! Claro, que não estou falando "daquela" cultura mais erudita, não... Afinal, assistir Ingmar Bergman, não é para todos, não foi para mim por um certo tempo, também, necessita-se de uma certa maturidade, não cronológica, pré disposição, uma certa tendência a depressão, um pouco de masoquismo, afinal, ele mostra a podridão humana (podridão humana... Na novela teve isso, também) de uma forma tão suave, que a maioria das pessoas acha que é maluquice mesmo...
Não, não é dessa cultura aí não, que estou falando. É da cultura popular mesmo, aquela do boca a boca, que não necessariamente precise queimar neurônios para entendê-la, mas que nem por isso, deixa de ser rica. 
Aliás, acho que vou desdizer aquilo que eu já disse; teve cultura sim, a cultura da escória... Pessoas com carácter duvidosos mostradas como se fossem ícones e se tornam, modelos de conduta, afinal, eu vivo ouvindo "bateu, levou", "estava só me defendendo", seguindo o modelo de vingança, pregada na TV, com tanta maestria, todo mundo tem um motivo para se tornar mal, tadinho. E assim, nossos atos maldosos são justificáveis. E assim caminha a humanidade.E aquele personagem que nasceu para ser mal, tem que ter uma justificativa. E porque, para se dar mais veracidade, é preciso aproximar o personagem do ser humano,  e todos temos nossos porões lotados de fantasmas e cheiinhos de sujeira e dois cães, o bom e mal, famintos, esperando pelo alimento, e o mal é bem mais voraz!
Cresci assistindo novela, nem o telefone podia tocar na hora, minha infância e juventude foram movidas pela teledramaturgia, usei as roupas da novela, cortei o cabelo igual ao da personagem (falando nisso, que escândalo aquele cabelo da Gloria Pires, hein?) toda trilha sonora que saia, eu pedia o LP... E sempre teve mentira e traição, falsidade, a mocinha e o vilão, mas não sei se pelos motivos que citei acima, isso anda me incomodando muito, ou se porque está demais mesmo... Ou ainda, por que já sou vovó, apesar do corpinho... E realmente, não quero que meu netinho veja esse lixo humano na TV.
E não vou dizer que foi ruim, porque não foi, foi um banho de interpretação e como eles são bons, sabem muito de atuação, mesmo porque, no primeiro capítulo não se colocou os modelinhos sem expressão, que aparecerão. Eles colocaram os frontliners no primeiro capítulo! Foi briga de cachorro grande! Acho que só faltou o Tony Ramos... Deram um bando... E mesmo sendo totalmente clichê, essa novela terá alguns (ALGUNS, pois os modelinhos vem aí) grandes momentos de interpretação.
O problema é que tenho certeza que ficarei extremamente chocada ao  ouvir essa novela e esses personagens na boca de crianças, como ouvi, na época da novela da Carminha ( que não sei o nome), no programa da Fatima Bernardes (eu doente, nesse dia, esclarecendo), uma menininha  de 4 anos dizendo: eu odeio a Carminha! Puxa, uma criança tão nova sendo ensinada a odiar? Isso me magoou. E eu realmente, não quero ver meu netinho odiando...
Não sei se porque não dormi essa noite, por conta de uma garganta inflamada, ou se não dormi porque fiquei preocupada... Mas o fato é, que sendo educadora, não podia deixar passar, não dá pra ficar impune!
Não estou criticando os telespectadores das novelas, não é isso, é só a falta de reflexão. Não podemos deixar essas coisas nos afetarem enquanto ser humano, não deixar a atuação se transformar em modus operandi da sociedade. Não deixem! O preço é caro demais, e já estamos pagando. 
Violência sempre existiu, faz parte do ser humano, mas hoje há uma inversão; se tenho baixa estatura e me chamam de baixinha na escola, é violência, bullying... Agora se eu revido um tapa, estou me defendendo! E mesmo sem ter começado, eu continuei um ato violento... E mais uma vez, a humanidade inverte os valores... Fui apelidada das coisas mais horríveis na escola, e nem por isso passei a minha vida, querendo me vingar! "Olho por olho e a humanidade, um dia será cega!" Como dizia Gandhi. E a humanidade já está cega!
Vou assistir a novela? É de vez em quando vou... Mas no dia a dia, vou voltar assistir Criminal Minds, acho menos forte, talvez porque é mais distante, não passa aqui, na cidade maravilhosa, passa lá no tio Sam, onde as coisas são mais fakes mesmo!

(* usei o título de um texto da Marina Colasanti, quem quiser ler: Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia...

Enviado do meu iPad

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Somente mais um dia no paraíso.

É interessante quando nos vemos no meio de uma multidão e nos percebemos absolutamente solitários. Tantos rostos, mas o que cada esconde? Quais as alegrias e preocupações? De onde vem e para onde vão?
Uma vez, sentada no vagão, pensando a respeito dos meus problemas, do dinheiro curto, nas incompreensões da vida, vi entrar cinco rapazinhos, com um olhar de encantamento para tudo.
Frescos, como brotinhos recém germinados, com o sorriso franco e verdadeiro, tão próprio da juventude.
Traziam consigo objetos estranhos àquele tumulto; instrumentos musicais. No meio da confusão que começava junto com a superlotação, dentro de sacolas próprias, presos as costas dos rapazes, os instrumentos musicais, seguiam seus donos de forma silenciosa. Aqueles que foram feitos para fazer barulho, estavam mudos diante da poluição sonora .
Os meninos tinham um ingenuidade que corria por suas faces e estava lá para quem quisesse ver.
Acredito que talvez ninguém, além de mim, percebia aquelas criaturas tão fascinantes, todos estavam tão incomodados com sues horários e aperto no vagão, que não poderiam pensar em nada, além de se incomodar com os objetos volumosos que eles portavam e que a todo momento esbarravam em alguém.
Para onde iriam? Todos juntos, aparentando nunca terem estado nessas circunstâncias antes. Sorrisos e nervosismo misturados, um ar de poesia e sonho no meio do horário do rush.
Parada na estação, preciso descer, trocar de linha, seguir meu caminho. Parece que todos descem na mesmo lugar, longa caminhada, escadas, esteiras rolantes, confusão, gente se empurrando e os meninos? Não os vejo mais, de certo seguiram no vagão rumo a próxima estação, sem se arriscar no meio do caos subterrâneo.
Chego a plataforma de embarque, num canto da pilastra, os cinco rapazes e seus instrumentos, olhando para um papel que parecia um mapa meio amarrotado. Eles olham para o papel, parecem discutir, viram o papel, sorrisos entre si e lá vão eles embarcar no mesmo trem que eu.
De certo aqueles moços estão indo pra uma audição, um ensaio, um teste. Pela primeira vez juntos, no metrô. A bateria também ia, carregada por dois, tropeçando nas pessoas zangadas de caras impessoais, se desculpando e sorrindo.
O trem chega, eles, eu e a multidão embarca. Durante os pouco minutos de duração da viagem penso nesses brotos, cheios de vida e esperança, indo para o momento de suas vidas, com aquela vontade que só quem é jovem tem, aquela vontade que já tive e que a grande massa deixou parada em algum pedaço do tempo.
Não consigo lembrar dos detalhes dos rostos, apenas do sorriso e do brilho no olhar. Serão eles grandes astros? Talvez. Dificilmente. Mas eles foram, sorrindo e esperançosos. Talvez lá no futuro, por trás de suas mesas de escritório, olhando pela janela de vigésimo quinto andar, em seus ternos bem cortados, preocupados com a queda do índice dow jones ou esperando mais um plantão interminável, cheio de doentes imaginários, ou ainda preocupados com mês maior que seu salário, zangados porque o filho ficou de recuperação e a mulher com tpm feroz, eles se lembrem desse dia. Do dia que ousaram ser diferentes da multidão, ousaram sonhar, ousaram pensar que se pode viver um dia depois do outro sem se preocupar com o amanhã. Se lembrem que foram com a cara, coragem e instrumentos volumosos, enfrentar a máquina.
Estação Paraíso. Ouço: - É aqui, desce ai, vai cara! E lá eles descem, no Paraíso. Tomara que seja mesmo um grande dia no paraíso! O trem sai e os vejo empolgados, conversando alegremente antes da escuridão os engolir. Lá eles ficaram, em animação suspensa, sempre jovens, sempre belos, sempre frescos, cheios de sonhos. Parados espaço tempo, forever young. Nunca saberei que houve com eles. Nem eles saberão que naquele dia, alguém os observava e torcia por eles, para que não perdessem o trem, o trem da vida, que não se tornassem velhos ranzinzas e barrigudos, amargos e sem sonhos. Eles nunca vão saber! Eles estão sempre lá, no paraíso do underground.
Duas estações adiante, chega a minha hora de descer do vagão, seguir meu rumo, afinal o boleto do condomínio está atrasado, a fatura do cartão vais chegar com uma facada e a cesta básica subiu 4,2%, o que impacta muito mais que o índice no meu bolso e meu chefe não vai entender que existe poesia no metrô. Subo as escadas, saio da sombra para mais um dia. Volto a ficar carrancuda como todos. Lá fundo ficou uma marca, uma alegria que ninguém precisa saber, apenas um sonho.

sábado, 9 de agosto de 2014

A estrada


A melhor coisa de se morar em cidade grande é que ninguém se importa com a sua vida... A pior coisa de se morar em uma cidade grande é que ninguém se importa com a sua vida.
É incrível como as pessoas ignoram umas as outras como se fossem apenas coisas. Ninguém se olha, o pior, ninguém se vê.
As vezes eu pegava o metrô e ficava olhando para os rostos das pessoas e tentava imaginar que histórias haviam por trás daquelas expressões. Aquela multidão de anonimato, sem rostos, que sonhos  teriam? Me dava uma solidão.
Só quem é do interior é que sabe; as dores e as delicias de ser caipira provinciana... Meu lar sempre será o interior. Por isso, nada me faz mais feliz, ultimamente, que voltar pra casa.
Manhã muito fria, acordar cedo, aquela preguiça, o despertador tocou, ai não... É sábado. Mas não é dia de trabalhar, é dia de ir pra casa!
Banho, café, sacolas no carro e tchau São Paulo, tem vida me esperando a 100 quilômetros.
Umas das coisas que gosto é pegar a estrada cedinho, dia amanhecendo, pouco trânsito, muita disposição. Escapo rapidamente do resto de cidade e entro na BR, acelerando e ajustando o memory card com a trilha sonora da estrada, escolhi começar com Sweet Home Alabama, de repente, um sorriso no rosto, minha casa não é no Alabama, mas minha saudade é igual ao do Linard Skynard.
Entro no Rodoanel, caminhão pra tudo quanto é lado, entro no túnel, todo caminhoneiro é meio filhadaputa, desculpa aí, não é pessoal!
Deixei a voz do David me levar, pra espantar a raiva do caminhoneiro, canto a plenos pulmões; Too many tears: now my heart is breaking, my all world is shaking, 'cause I can't understand why you doing these things to me! Ainda bem que ando só... Ninguém precisa saber que eu sou desafinada!
Ainda bem que é só um pouquinho... No rodoanel, eu sou a intrusa, é território dos filhadaputa, mais uma vez, nada pessoal.
Primeiro pedágio, entro na curva retomando a aceleração, entro na Castelo, estou no meu ambiente, reta, asfalto perfeito, super sinalizada. Deixo o Pink Foyd me levar... Tenho a grata companhia de duas Harleys, uma Fat Boy e uma Sportster. Sei lá, acho que eles pensaram que minha pickup era um deles, as cegas, como eles poderiam saber que dentro daqueles vidros pretos de insulfilm estava uma amante dos motores em V?
Segundo pedágio, minha escolta para a direita e eu diminuo a marcha pela ultima vez, antes de chegar na área 15, a cancela abre, acelero, quinta marcha e a reta a minha frente.
A neblina de leve se dissipa e deixa um filtro suave nas cores que começam a se revelar pelo sol que sai tímido, deixando tudo como parte de um quadro.
Paradise, deixo o Coldplay tentar aquecer meu coração que anda tão tristinho. A cabeça voa, os pensamentos vão e voltam, os rostos das pessoas queridas se misturam a paisagem, um sorriso e resolvo ficar na pista do meio, ali não preciso me preocupar com os caminhões e nem com os apressadinhos. Posso curtir a estrada.
Avisto um guincho carregando dois karmanghias (nem sei se é assim que se escreve), lindos, indo pra algum encontro. Penso que os carros de hoje são muito tecnológicos, mas nem se comparam ao charme dos antigos. Logo ali, mais um guincho e outro e outro, cada um carregando uma preciosidade. A estrada estava enfeitada, aquilo sim eram verdadeiros carros alegóricos. Mas no meu som não toca samba, rock n' roll sempre.
Pelo retovisor vejo algo fora do comum se aproximando, garoa fina e lá vem um jaguar conversível verde, dentro, dois bobos que estavam mais preocupados em se mostrar que proteger suas cabeças das gotas. Os caras eram bobos, mas o jag... Era lindo!
Preciso mudar de faixa, acelerar um pouquinho mais, o bacalhau do 58 passa ao lado, qualquer dia, paro ali, não hoje, tô mais pra café passado na hora, pão fresco com requeijão Criolo sentada na minha cadeira, olhando pro nada, de preferência, pensando em nada.
Lá vem o beemevê a milhão, vai cara, que teu motor pode te levar mais rápido que o meu, mas não muito, vê se não se mata e não mate ninguém.
Deixo a voz do Eddie me levar, ao contrário dele, não ouço nenhuma sirene, porque ele tem que cantar tão bonito?
Os quilômetros vão passando rápido, já estou no paredão, daqui a pouco, quilômetro 96, vou deixar a Castelo seguir em frente, vou em direção ao meu refúgio. Sinto que faço a curva rápido demais, me dá aquele gelinho na espinha, mas tudo está certo, meus tempos de pé embaixo ficaram pra trás, tempo muito a perder e muitos que me esperam, não vale a pena arriscar. Último pedágio, passo a 56 no semparar, devia estar a 40, mas a cancela abre e já me sinto em casa.
Lá vem outro apressadinho: - vai logo mercedinho, talvez seus motivos pra correr tanto sejam dignos, talvez seja motivo de vida ou morte. Eu saio, tiro o pé e começo a ver as coisas mais conhecidas, volto a primeira musica da playlist: Sweet home Alabama, e logo depois da ponte, lá está ela, acordando pra um novo dia. E não é que como o Alabama, o céu está tão azul, o cinza de São Paulo ficou lá.
O coração começa a pular no peito, tenho que lembrar de diminuir a marcha, diminuir a velocidade e entrar na curva que leva a marginal do rio com as margens floridas e a ciclovia vermelha, sempre acelerando, aprendi com meu pai: curva se faz acelerando, nunca brecando. Mas não breco mesmo, já já passo na padaria e compro pão quentinho.
Agora cheguei... Talvez as pessoas não entendam, a melhor coisa de se morar no interior é que você sempre encontra alguém conhecido, a pior coisa de se morar no interior é encontrar sempre com alguém conhecido...
A estrada é sempre longa, mas agora tem vida aqui me esperando e uma gata manhosa me pedindo carinho.

Um pouquinho de poesia:
"Eu vejo um horizonte trêmulo
Eu tenho os olhos úmidos"
"Eu posso estar completamente enganado
Posso estar correndo pro lado errado"
Mas "A dúvida é o preço da pureza"
E é inútil ter certeza
Eu vejo as placas dizendo "Não corra"
"Não morra", "Não fume"
"Eu vejo as placas cortando o horizonte
Elas parecem facas de dois gumes"
Minha vida é tão confusa quanto a América Central
Por isso não me acuse de ser irracional
Escute garota, façamos um trato
"Você desliga o telefone se eu ficar muito abstrato"
Eu posso ser um Beatle
Um beatnik, ou um bitolado
Mas eu não sou ator
Eu não tô à toa do teu lado
Por isso garota façamos um pacto
De não usar a highway pra causar impacto
Cento e dez
Cento e vinte
Cento e sessenta
Só pra ver até quando
O motor aguenta
Na boca, em vez de um beijo
Um chiclet de menta
E a sombra de um sorriso que eu deixei
Numa das curvas da highway.

domingo, 3 de agosto de 2014

Por trás dessa lente também bate um coração



Pois é... Todo mundo um dia passa por isso.
Quando somos crianças e usamos óculos, todo mundo nos chama de "quatro olhos". Se for lente grossa, "fundo de garrafa" e outras cositas bem simpáticas.
Na minha família, tem um monte de Quatroolhos e Fundodegarrafa. E eu? Estava me achando imune as lentes, mas que nada...
Quando chegamos a "certa idade", não tem jeito; ou você desenvolve uma tal de presbiopia, ou todas aquelas coisinhas que você já teve, voltam com tudo! E comigo não podia ser diferente, não é?
Fui estrábica na infância, coisa comum na minha família, tem sempre um vesguinho, é até charme. Lembro de ir comprar óculos com a minha mãe, eu estava me achando importante, afinal usar óculos era tão legal! Até chegar na escola... Quatro olho, quatro olho! Naqueles tempos, bullying era uma palavra que nem existia no nosso dicionário e vivíamos ouvindo; se apanhar na escola, apanha de novo em casa, arrumar encrenca  na escola estava fora de cogitação, ainda mais pra mim, que era medrosa de carteirinha. Af! Eu me sentindo a tal, ai vem aquele moleque chato e puxa o coro... Vontade de dar um "muquete" (como se dizia) na boca do cretino! Mas claro, ficava na vontade e engolir o choro, era o mais acertado.
Uma vez, resolvi dar uma acertadinha nos meus óculos... Quebrei! Nem preciso falar que levei umas belas palmadas, porque claro, naquele tempo, os pais podiam dar palmadas nos seus filhos...
Fiquei uns dois anos usando as lentes e o estrabismo sumiu.
E assim, minha vida veio seguindo; óculos? Só de sol! De preferência, Ray Ban (tenho um wayfarer original, com lente BL, que tem exatamente a idade do meu filho número 2! Relíquia de família.).
Mas eis que chego aos 40... Comecei a deixar passar erro nas provas dos meus alunos e a ficar em situação embaraçosa. Consulta no oftalmo e saio de lá com uma receita de lentes pra leitura, hipermetropia, não conseguia enxergar de perto. Claro que comprei uma armação bem pequena e baratinha, imagina, se eu ia gastar dinheiro com algo que eu ia usar tão pouco! E era aquela tira e põe, o dia todo... Uma vez por ano, eu ia lá dilatar a pupila, fazer um exame numa máquina que dá um soprinho no olho e usar uma coisa engraçada na cara, cheia de lentes escamoteáveis, tendo que ler uma série de letrinhas que vão diminuindo. Um belo dia, ouvi uma palavra engraçada: astigmatismo! Eu a ouvia, pois meu filho numero 2, também tem e eu sempre ficava mortificada todas as vezes, desde os dois anos que ele dizia pro tio do olho: num xergo! Então, deveria usar lentes bifocais! Mas nunca! Isso é coisa de velho, aqueles óculos com aquelas marquinhas? Para passar de vez meu atestado de velhice? Never! Teimei e teimei, só usava óculos pra leitura... Ninguém me via de óculos, só quando eu ia ler, ai tinha até uma gracinha.
Dois anos atrás, fui renovar minha carteira de habilitação e eis que na hora do exame de visão, tudo embaçado! E o médico me olha e diz: você não usa óculos? E eu balancei a cabeça em negativa. Ele até que foi compreensivo e me disse: - é a ultima vez que você vai conseguir renovar a CNH sem óculos! Putz, ferrou! Usar óculos pra dirigir? A treva total!
Depois de relutar muito, lá vou escolher uma lente bifocal... Ouvi da moça da ótica, que agora é multifocal... Ela me mostrou coisas na casa do quatro dígitos... No way! Como posso gastar tanto nunca coisa que nem quero? Escolhi de novo, uma armação super baratinha e uma lente com preço decente... Todo mundo me dizia que eu ia passar mal, que ia me dar enjoo, que isso, que aquilo...
Que nada, passeial? Não. Enjoeei? Não! Só me arrependi de ter comprado uma armação tão pequena...
Nos dias de hoje, não saio nem da cama sem os óculos. Vira e mexe, coloco os óculos na balada, porque num tô vendo nada e de repente ouço: - tiiiiiiiiiiira o óculos! Ai meu zeus, que crime, na balada, de óculos! Eu tiro, mas tenho a impressão que tô pelada.
Outro dia, esqueci meus óculos no carro, cheguei no trabalho e o pessoal todo falando comigo e eu disse: - Gente, sem óculos, fico surda! Saí correndo buscar meu acessório!
Agora, tenho que assumir, não fico mais sem, assumi uma armação mais estilosa, grandona e confortável. Até meu corte de cabelo foi pensado nos óculos...
Apesar de eu não ter nascido de óculos, não ter sido assim, vou acabar de óculos, com orgulho e de estilo; tô louca por uma armação gatinho...
Se eu tô alegre eu ponho os óculos e vejo tudo bem
Mas seu eu tô triste eu tiro os óculos, eu não vejo ninguém!
Outro dia até ouvi que é charmoso mulher de óculos... Mas ainda está longe de me sentir.

Gavetas

Vasculhando achei um pouco de você. Nas gavetas trancadas, a saudade que persiste. Papel dobrado, uma roupa que deixou de ser lavada. Um papel de bala, um bilhete de cinema. O CD do Chico, o papel do presente de natal. Ficou tudo lá, nas gavetas. Tirei da gaveta, coloquei na caixa. A caixa, no armário. De todo dia, pra de vez em quando. As gavetas são fáceis de arrumar. O coração é que não. Não dá pra tirar e colocar em outro lugar. Bem que podia. Pra tirar tudo, só reencarnação. Nem assim.

sábado, 2 de agosto de 2014

Lesma

O tempo não passa
Se arrasta
Feito lesma
Correndo maratona

O tempo não existe
Quem o pega
Quem o doma
É só uma ideia

Teve copa
O Brasil nao ganhou
Não falei pra ti
As coisas que pensei

Fiquei con raiva do tempo
Do mundo
Dei pra falar asneiras
Pra ser mau humorada

Não como mais salmão
Não ouço mais Beatles
Não leio mais Neruda
Tô de mal com a vida


Nao me pergunte das coisas
Porque da amargura
Só quem sabe que sente
Não preciso dizer.

No fundo só quero falar de ti.