Fiquei revoltada... é
fiquei mesmo. A minha revolta se dá a ignorância e a falta de profundidade das
pessoas. Ao se ler uma manchete e se achar entendedor de toda a notícia! Da
falta de discernimento e dos discursos populistas que são um grande câncer em
nossa sociedade. Desculpe-me a franqueza, mas você ai que defendeu a
continuidade para a maioridade penal de 18 anos, acho que não compreendeu do
que se tratava.
Primeiro, não se pensou em
mandar para cadeia um garotinho pobre que roubou um pão por fome... Nem um jovem
viciado que comete pequenos furtos para sobreviver, porque a sociedade o
abandonou. Não, falamos de crimes hediondos e os listo para quem ainda não sabe
do que se tratam:
- homicídio (art. 121 do CP);
- homicídio qualificado (art. 121, § 2º, I, II,
III, IV, V e VI do CP);
- latrocínio (art. 157, § 3º, do CP);
- extorsão qualificada pela morte (art. 158, §
2º, do CP);
- extorsão mediante sequestro e na forma
qualificada (art. 159, caput, e §§ 1º, 2º e 3º, do CP);
- estupro (art. 213, caput e §§ 1º e 2º, do CP);
- estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§
1º, 2º, 3º e 4º, do CP);
- epidemia com resultado morte (art. 267, § 1º,
do CP);
- falsificação, corrupção, adulteração ou
alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art.
273, caput e § 1º, §1º-A, § 1º-B, do CP);
- genocídio (arts. 1º, 2º e 3º da Lei 2.889/56).
Ou
seja, crimes que fogem à condição de humanidade e posso garantir que um
adolescente de 16 anos sabe muito bem discernir o que um ato de barbárie.
O
discurso dos “contra a redução” é de que só puniríamos crianças pobres e abandonadas.
Pois bem, afirmo que pobreza não é condição para mau caratismo, nem acesso a “programas
sociais” determina se você é bom ou mau. As redes sociais estão cheias de
exemplos de pessoas saídas dos lugares mais pobres e violentos, que conseguiram
resistir à grana rápida de um roubo ou de um aviãozinho, aos apelos da
sociedade consumista que lhes dizia que precisavam desesperadamente de coisas
para ostentar, e seguem suas vidas com dignidade, ostentando o que o ser humano
tem de melhor; o caráter e a honestidade.
O
que vamos dizer aos pais das quatro meninas que foram tirar uma selfie num
ponto turístico de uma cidade do Piauí e foram estupradas, apedrejadas e
jogadas de um penhasco, uma nunca voltará para casa. Vamos dizer que eram três
crianças pobres dominadas por um adulto predador? Vamos dizer que a culpa é
delas, por terem ido a um lugar afastado para tirar fotos com suas amigas? Desculpem-me,
mas se eu fosse a mãe de uma delas, eu estaria com vontade de abandonar esse
mundo. Eles são adolescentes, mas não são estúpidos! São plenamente capazes de
saber o que é certo e errado e eles sabiam, tanto que tentaram se livrar das
provas. Eles tiveram escolha, eles podiam ter dito não! Como dizia um grande
sábio: você tem sempre escolha, mesmo se colocarem uma arma na sua cabeça e te
mandarem fazer algo errado, você tem escolha; mande apertar o gatilho!
E
falo isso com propriedade, pois criei dois rapazes, que desde muito cedo sabiam
o que era certo e o que era errado, que sempre sofreram as boas ou más conseqüências
de seus atos. E se não bastasse isso, convivo há muitos anos com alunos
adolescentes e sei que são muito capazes de fazem julgamentos. E por último,
meu irmão trabalha em uma unidade da Fundação Casa e tem histórias que dão
pesadelos em qualquer um. Ao dizer que são incapazes de pagar seriamente por
seus atos, estamos os chamando de ignorantes. E mais, estamos sustentando uma indústria
do crime, especializada em utilizar “os de menor” na certeza da impunidade! Ou
seja, estamos realmente condenando alguns ao crime e a muitos ao medo.
Não
sou a favor de colocarem os adolescentes infratores nessas penitenciarias que
temos, mas em unidades especiais para eles, mas que cumpram pena, que podem
também ter caráter socioeducativo. Mas eles não podem ser tratados como
adolescentes infratores, quem comete um dos itens da lista de crimes hediondos
é um CRIMINOSO, independente se tem 16 ou 50 anos.
Mas
depois de tudo isso, na verdade o que me revolta é saber que a emenda não
passou por puro interesse político, que foram passadas mensagens com algumas
orientações, porque o autor da emenda é da oposição e só por isso o “soy contra”
predominou em alguns. O que me revolta são as pessoas popularescas sendo usadas
para mascarar a real verdade. E o circo armado, com estudantes*, grito e
empurra empurra e logo depois os cartazes dizendo “vencemos”. Sorry, mas
ninguém venceu, todos perdemos. Este é o lado negro da força, nos dão um poder que não sabemos controlar e nos fazem acreditar que o que é ruim, é bom e vice versa. Nos deixando cegos ao que realmente acontece.
*
Preciso fazer um comentário sobre isso: a grande maioria dos estudantes não
sabe realmente acontece, fui adolescente e estudante em uma época de protestos
contra ditadura, diretas já e assisti aos “caras pintadas” com muita atenção,
lendo jornais todos os dias, vendo vários telejornais (os tendenciosos, os
sensacionalistas, os “quase” imparciais”), as revistas editadas na época e
posso dizer: duvido que meus colegas sabiam realmente o que faziam nas
manifestações, muito foram para matar aula! Se para mim, foi difícil julgar e
separar joio de trigo, imagina agora, num tempo no qual a notícia muda a todo
tempo e a informação é curta e sem profundidade?
E
só para que se lembrem: o líder estudantil Lindberg Farias, líder do movimento
dos cara pintadas, que lutava contra a corrupção no governo Collor, é hoje Senador e está sendo investigado na
Lava Jato. Por isso, meus queridos, cuidade nem tudo que reluz é ouro!