O que passa na minha cabeça

Toda mulher, desde que se entende como gente, vive dilemas. Algumas encaram esse dilema eterno com amargura, tristeza, depressão... Outras, com bom humor. E encarar a vida com bom humor é um santo remédio pra rugas! Aqui vou escrevendo as coisas que vou vendo por aí, conto algumas experiências minhas, experiências de minhas amigas, amigos... Claro, sempre preservando a intimidade, algumas coisas que conto não aconteceram bem assim, mas poderiam ser... Enfim, realidade e ficção... São duas possibilidades e ai tem mais um dilema: A vida imita a arte ou vice versa?
Como escrevo numa paulada só, ou seja, sento , escrevo e publico, as vezes engulo uma letra, repito uma palavra. Acabo não fazendo correção do texto por medo de perder a espontaneidade. Então, perdoem meus pequenos errinhos, podem até me mandar um comentário mostrando. Espero que todos se divirtam aqui.

sábado, 9 de agosto de 2014

A estrada


A melhor coisa de se morar em cidade grande é que ninguém se importa com a sua vida... A pior coisa de se morar em uma cidade grande é que ninguém se importa com a sua vida.
É incrível como as pessoas ignoram umas as outras como se fossem apenas coisas. Ninguém se olha, o pior, ninguém se vê.
As vezes eu pegava o metrô e ficava olhando para os rostos das pessoas e tentava imaginar que histórias haviam por trás daquelas expressões. Aquela multidão de anonimato, sem rostos, que sonhos  teriam? Me dava uma solidão.
Só quem é do interior é que sabe; as dores e as delicias de ser caipira provinciana... Meu lar sempre será o interior. Por isso, nada me faz mais feliz, ultimamente, que voltar pra casa.
Manhã muito fria, acordar cedo, aquela preguiça, o despertador tocou, ai não... É sábado. Mas não é dia de trabalhar, é dia de ir pra casa!
Banho, café, sacolas no carro e tchau São Paulo, tem vida me esperando a 100 quilômetros.
Umas das coisas que gosto é pegar a estrada cedinho, dia amanhecendo, pouco trânsito, muita disposição. Escapo rapidamente do resto de cidade e entro na BR, acelerando e ajustando o memory card com a trilha sonora da estrada, escolhi começar com Sweet Home Alabama, de repente, um sorriso no rosto, minha casa não é no Alabama, mas minha saudade é igual ao do Linard Skynard.
Entro no Rodoanel, caminhão pra tudo quanto é lado, entro no túnel, todo caminhoneiro é meio filhadaputa, desculpa aí, não é pessoal!
Deixei a voz do David me levar, pra espantar a raiva do caminhoneiro, canto a plenos pulmões; Too many tears: now my heart is breaking, my all world is shaking, 'cause I can't understand why you doing these things to me! Ainda bem que ando só... Ninguém precisa saber que eu sou desafinada!
Ainda bem que é só um pouquinho... No rodoanel, eu sou a intrusa, é território dos filhadaputa, mais uma vez, nada pessoal.
Primeiro pedágio, entro na curva retomando a aceleração, entro na Castelo, estou no meu ambiente, reta, asfalto perfeito, super sinalizada. Deixo o Pink Foyd me levar... Tenho a grata companhia de duas Harleys, uma Fat Boy e uma Sportster. Sei lá, acho que eles pensaram que minha pickup era um deles, as cegas, como eles poderiam saber que dentro daqueles vidros pretos de insulfilm estava uma amante dos motores em V?
Segundo pedágio, minha escolta para a direita e eu diminuo a marcha pela ultima vez, antes de chegar na área 15, a cancela abre, acelero, quinta marcha e a reta a minha frente.
A neblina de leve se dissipa e deixa um filtro suave nas cores que começam a se revelar pelo sol que sai tímido, deixando tudo como parte de um quadro.
Paradise, deixo o Coldplay tentar aquecer meu coração que anda tão tristinho. A cabeça voa, os pensamentos vão e voltam, os rostos das pessoas queridas se misturam a paisagem, um sorriso e resolvo ficar na pista do meio, ali não preciso me preocupar com os caminhões e nem com os apressadinhos. Posso curtir a estrada.
Avisto um guincho carregando dois karmanghias (nem sei se é assim que se escreve), lindos, indo pra algum encontro. Penso que os carros de hoje são muito tecnológicos, mas nem se comparam ao charme dos antigos. Logo ali, mais um guincho e outro e outro, cada um carregando uma preciosidade. A estrada estava enfeitada, aquilo sim eram verdadeiros carros alegóricos. Mas no meu som não toca samba, rock n' roll sempre.
Pelo retovisor vejo algo fora do comum se aproximando, garoa fina e lá vem um jaguar conversível verde, dentro, dois bobos que estavam mais preocupados em se mostrar que proteger suas cabeças das gotas. Os caras eram bobos, mas o jag... Era lindo!
Preciso mudar de faixa, acelerar um pouquinho mais, o bacalhau do 58 passa ao lado, qualquer dia, paro ali, não hoje, tô mais pra café passado na hora, pão fresco com requeijão Criolo sentada na minha cadeira, olhando pro nada, de preferência, pensando em nada.
Lá vem o beemevê a milhão, vai cara, que teu motor pode te levar mais rápido que o meu, mas não muito, vê se não se mata e não mate ninguém.
Deixo a voz do Eddie me levar, ao contrário dele, não ouço nenhuma sirene, porque ele tem que cantar tão bonito?
Os quilômetros vão passando rápido, já estou no paredão, daqui a pouco, quilômetro 96, vou deixar a Castelo seguir em frente, vou em direção ao meu refúgio. Sinto que faço a curva rápido demais, me dá aquele gelinho na espinha, mas tudo está certo, meus tempos de pé embaixo ficaram pra trás, tempo muito a perder e muitos que me esperam, não vale a pena arriscar. Último pedágio, passo a 56 no semparar, devia estar a 40, mas a cancela abre e já me sinto em casa.
Lá vem outro apressadinho: - vai logo mercedinho, talvez seus motivos pra correr tanto sejam dignos, talvez seja motivo de vida ou morte. Eu saio, tiro o pé e começo a ver as coisas mais conhecidas, volto a primeira musica da playlist: Sweet home Alabama, e logo depois da ponte, lá está ela, acordando pra um novo dia. E não é que como o Alabama, o céu está tão azul, o cinza de São Paulo ficou lá.
O coração começa a pular no peito, tenho que lembrar de diminuir a marcha, diminuir a velocidade e entrar na curva que leva a marginal do rio com as margens floridas e a ciclovia vermelha, sempre acelerando, aprendi com meu pai: curva se faz acelerando, nunca brecando. Mas não breco mesmo, já já passo na padaria e compro pão quentinho.
Agora cheguei... Talvez as pessoas não entendam, a melhor coisa de se morar no interior é que você sempre encontra alguém conhecido, a pior coisa de se morar no interior é encontrar sempre com alguém conhecido...
A estrada é sempre longa, mas agora tem vida aqui me esperando e uma gata manhosa me pedindo carinho.

Um pouquinho de poesia:
"Eu vejo um horizonte trêmulo
Eu tenho os olhos úmidos"
"Eu posso estar completamente enganado
Posso estar correndo pro lado errado"
Mas "A dúvida é o preço da pureza"
E é inútil ter certeza
Eu vejo as placas dizendo "Não corra"
"Não morra", "Não fume"
"Eu vejo as placas cortando o horizonte
Elas parecem facas de dois gumes"
Minha vida é tão confusa quanto a América Central
Por isso não me acuse de ser irracional
Escute garota, façamos um trato
"Você desliga o telefone se eu ficar muito abstrato"
Eu posso ser um Beatle
Um beatnik, ou um bitolado
Mas eu não sou ator
Eu não tô à toa do teu lado
Por isso garota façamos um pacto
De não usar a highway pra causar impacto
Cento e dez
Cento e vinte
Cento e sessenta
Só pra ver até quando
O motor aguenta
Na boca, em vez de um beijo
Um chiclet de menta
E a sombra de um sorriso que eu deixei
Numa das curvas da highway.

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