O que passa na minha cabeça

Toda mulher, desde que se entende como gente, vive dilemas. Algumas encaram esse dilema eterno com amargura, tristeza, depressão... Outras, com bom humor. E encarar a vida com bom humor é um santo remédio pra rugas! Aqui vou escrevendo as coisas que vou vendo por aí, conto algumas experiências minhas, experiências de minhas amigas, amigos... Claro, sempre preservando a intimidade, algumas coisas que conto não aconteceram bem assim, mas poderiam ser... Enfim, realidade e ficção... São duas possibilidades e ai tem mais um dilema: A vida imita a arte ou vice versa?
Como escrevo numa paulada só, ou seja, sento , escrevo e publico, as vezes engulo uma letra, repito uma palavra. Acabo não fazendo correção do texto por medo de perder a espontaneidade. Então, perdoem meus pequenos errinhos, podem até me mandar um comentário mostrando. Espero que todos se divirtam aqui.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Somente mais um dia no paraíso.

É interessante quando nos vemos no meio de uma multidão e nos percebemos absolutamente solitários. Tantos rostos, mas o que cada esconde? Quais as alegrias e preocupações? De onde vem e para onde vão?
Uma vez, sentada no vagão, pensando a respeito dos meus problemas, do dinheiro curto, nas incompreensões da vida, vi entrar cinco rapazinhos, com um olhar de encantamento para tudo.
Frescos, como brotinhos recém germinados, com o sorriso franco e verdadeiro, tão próprio da juventude.
Traziam consigo objetos estranhos àquele tumulto; instrumentos musicais. No meio da confusão que começava junto com a superlotação, dentro de sacolas próprias, presos as costas dos rapazes, os instrumentos musicais, seguiam seus donos de forma silenciosa. Aqueles que foram feitos para fazer barulho, estavam mudos diante da poluição sonora .
Os meninos tinham um ingenuidade que corria por suas faces e estava lá para quem quisesse ver.
Acredito que talvez ninguém, além de mim, percebia aquelas criaturas tão fascinantes, todos estavam tão incomodados com sues horários e aperto no vagão, que não poderiam pensar em nada, além de se incomodar com os objetos volumosos que eles portavam e que a todo momento esbarravam em alguém.
Para onde iriam? Todos juntos, aparentando nunca terem estado nessas circunstâncias antes. Sorrisos e nervosismo misturados, um ar de poesia e sonho no meio do horário do rush.
Parada na estação, preciso descer, trocar de linha, seguir meu caminho. Parece que todos descem na mesmo lugar, longa caminhada, escadas, esteiras rolantes, confusão, gente se empurrando e os meninos? Não os vejo mais, de certo seguiram no vagão rumo a próxima estação, sem se arriscar no meio do caos subterrâneo.
Chego a plataforma de embarque, num canto da pilastra, os cinco rapazes e seus instrumentos, olhando para um papel que parecia um mapa meio amarrotado. Eles olham para o papel, parecem discutir, viram o papel, sorrisos entre si e lá vão eles embarcar no mesmo trem que eu.
De certo aqueles moços estão indo pra uma audição, um ensaio, um teste. Pela primeira vez juntos, no metrô. A bateria também ia, carregada por dois, tropeçando nas pessoas zangadas de caras impessoais, se desculpando e sorrindo.
O trem chega, eles, eu e a multidão embarca. Durante os pouco minutos de duração da viagem penso nesses brotos, cheios de vida e esperança, indo para o momento de suas vidas, com aquela vontade que só quem é jovem tem, aquela vontade que já tive e que a grande massa deixou parada em algum pedaço do tempo.
Não consigo lembrar dos detalhes dos rostos, apenas do sorriso e do brilho no olhar. Serão eles grandes astros? Talvez. Dificilmente. Mas eles foram, sorrindo e esperançosos. Talvez lá no futuro, por trás de suas mesas de escritório, olhando pela janela de vigésimo quinto andar, em seus ternos bem cortados, preocupados com a queda do índice dow jones ou esperando mais um plantão interminável, cheio de doentes imaginários, ou ainda preocupados com mês maior que seu salário, zangados porque o filho ficou de recuperação e a mulher com tpm feroz, eles se lembrem desse dia. Do dia que ousaram ser diferentes da multidão, ousaram sonhar, ousaram pensar que se pode viver um dia depois do outro sem se preocupar com o amanhã. Se lembrem que foram com a cara, coragem e instrumentos volumosos, enfrentar a máquina.
Estação Paraíso. Ouço: - É aqui, desce ai, vai cara! E lá eles descem, no Paraíso. Tomara que seja mesmo um grande dia no paraíso! O trem sai e os vejo empolgados, conversando alegremente antes da escuridão os engolir. Lá eles ficaram, em animação suspensa, sempre jovens, sempre belos, sempre frescos, cheios de sonhos. Parados espaço tempo, forever young. Nunca saberei que houve com eles. Nem eles saberão que naquele dia, alguém os observava e torcia por eles, para que não perdessem o trem, o trem da vida, que não se tornassem velhos ranzinzas e barrigudos, amargos e sem sonhos. Eles nunca vão saber! Eles estão sempre lá, no paraíso do underground.
Duas estações adiante, chega a minha hora de descer do vagão, seguir meu rumo, afinal o boleto do condomínio está atrasado, a fatura do cartão vais chegar com uma facada e a cesta básica subiu 4,2%, o que impacta muito mais que o índice no meu bolso e meu chefe não vai entender que existe poesia no metrô. Subo as escadas, saio da sombra para mais um dia. Volto a ficar carrancuda como todos. Lá fundo ficou uma marca, uma alegria que ninguém precisa saber, apenas um sonho.

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