O que passa na minha cabeça

Toda mulher, desde que se entende como gente, vive dilemas. Algumas encaram esse dilema eterno com amargura, tristeza, depressão... Outras, com bom humor. E encarar a vida com bom humor é um santo remédio pra rugas! Aqui vou escrevendo as coisas que vou vendo por aí, conto algumas experiências minhas, experiências de minhas amigas, amigos... Claro, sempre preservando a intimidade, algumas coisas que conto não aconteceram bem assim, mas poderiam ser... Enfim, realidade e ficção... São duas possibilidades e ai tem mais um dilema: A vida imita a arte ou vice versa?
Como escrevo numa paulada só, ou seja, sento , escrevo e publico, as vezes engulo uma letra, repito uma palavra. Acabo não fazendo correção do texto por medo de perder a espontaneidade. Então, perdoem meus pequenos errinhos, podem até me mandar um comentário mostrando. Espero que todos se divirtam aqui.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

A time it was. It was a time. A time of innocence...

Hoje acordei nostálgica...
Nem sei o que fez lembrar dessa história toda, me deu um misto de tristeza e felicidade. Vou contar a vocês.
Fui uma garota muito moleca, minhas referências eram sempre masculinas, talvez a falta da minha mãe, a convivência forte com meus irmãos, não sei, mas o fato que eu gostava do mundo dos meninos, não dos meninos, eu achava eles meio burros, mas do mundo deles. Parecia sempre muito mais divertido. Eu vivia escutando, como toda boa menina do interior, as coisas que eu tinha que aprender, que não ficava bem correr por aí, de ter o cabelo todo desgrenhado, brincar de polícia e ladrão, sujar toda a minha roupa, subir em árvore... Essas coisas que os meninos podiam fazer.
Até por volta dos 12 anos, eu não tinha noção do tamanho que eu estava, praticamente do tamanho que sou hoje, enorme 1,62m! Muito menos, tinha noção do meu corpo. De repente, dois aliens começaram a brotar no meu tórax e começaram a reparar. Por as pessoas tem que ser tão enxeridas? E daí que a menina está virando mocinha e nascendo peitinho? Acho que ouvir isso foi uma das piores coisas que me aconteceu. Comecei a usar duas camisetas, de preferência bem larga! Felizmente, eu herdava umas roupas do filho francês do chefe do meu pai, que era menino, então não era tão difícil assim.Estava maior que todo mundo da rua, os pirralhos dos meus irmãos e vizinhos. No sábado, a gente brincava na rua, a minha única amiga menina, a Lu, era como eu, do mesmo tamanho e pensava igual... Nós eramos as rainhas do pedaço, quem decidia a brincadeira, eramos nós! Quem não estivesse de acordo, levava uma baita porrada! Era o máximo! Quando chovia, a gente brincava de stop ou killer (esse jogo é super!!!!!!!), mas quando estava sol, a gente ia no jardim público e brincava de polícia e ladrão! O legal era ser ladrão! Como eu e a Lu mandávamos, a gente nunca era polícia e os pirralhinhos quase nunca nos pegavam! Tinha um vizinho, que tinha um ano a menos que eu, ele brincava mais com meus irmãos, mas vivia comigo também, tadinho do moleque, tomou muita porrada, botinada e beliscão de mim... Que pecado! Eu era revoltada mesmo e o menino era uma mala, bonitinho, loirinho, depois virou corredor de motocross e claro, ficou muito maior que eu, mas naquela época, tamanho era tudo, eu era maior e ele menor!
Certo dia, estavamos brincando de polícia e ladrão e claro ninguém me pegava. Estava escondida embaixo do coreto, vendo de longe a correria das outras crianças, me divertindo com a incompetência dos outros. Do nada, o Jorge, esse era o nome dele, aproveitando seu tamanho, deu um pulo e me deu um agarrão, gritando: tá presa, tá presa! Ele me agarrou pelas costas, traiçoeiro! Mas o pior não foi ser descoberta, o pior foi que o garoto meteu a mão nos meus peitos e na ansiedade da brincadeira, nem se deu conta. Tive a impressão que o mundo começou a andar na super câmera lenta, ai Deus... Eu não queria que ninguém soubesse, não queria que eles me vissem diferente, para meus amigos e irmãos, eu era extamente igual... mas não era mais... eu estava diferente, nem a Lu estava igual a mim... No meio do desespero, dei um grito que saiu lá de dentro e olhei pro garoto com olhar de total agonia, até aquele momento, ele não tinha se dado conta, ele só estava brincando comigo, de início, acho que ele pensou que fosse levar mais um tabefe, mas meu grito foi tão apavorante que ele percebeu que tinha descoberto algo muito importante sobre mim. De início, ficamos nos olhando assustados. Depois, saí correndo pra casa, chorando. estava tão suja de brincar que minhas lágrimas lamecaram meu rosto. Me tranquei no banheiro e praguejei até ver se a boca fica torta, era isso que diziam que acontecia com crianças malcriadas e que falam palavrão. Mas a boca não ficou, antes tivesse ficado, muito pelo contrário, percebi que ela tinha ficado com contornos diferentes, todo o meu corpo, estava diferente, com contornos diferentes...
Foi aí que eu descobri que eu estava realmente virando mocinha, demorou um pouco para menstruar e abandonar de vez os shorts, os tênis Bamba e as camisetas, mas comecei a ver o mundo com outros olhos. Meus dias de polícia e ladrão acabaram, como disseram meus irmãos e amigos, fiquei chata, só queria ficar em casa e de preferência, sozinha, nada mias tinha graça. Tive que começar a usar soutien, um caso delicado que eu conto em outra oportunidade, enfim, adolesci.
Quanto ao meu amiguinho Jorge, nunca mais nos falamos, acho que ficou tão constrangido que apagou da memória. Continuamos a morar na mesma rua, mas nunca mais brincamos, ele foi para outro colégio, deixou de ser amigo dos meus irmãos...
Foi uma experiência apavorante, porém incrível, mas de 30 anos se passaram e hoje eu lembrei como se fosse ontem. Talvez minha memória tenha me pregado uma peça, certamente foi menos romântico que o descrito, usei a minha liberdade poética, para recontar um momento conflitante na vida de toda mulher: se tornar mulher! E como é complicado e maravilhoso ao mesmo tempo. Hoje, ainda gosto do mundo dos meninos, de futebol, de motocicleta, de motor de carro, de ferramenta, tive dois meninos que adicionaram uma pitada de encantamento maior ao mundo dos garotos. Mas eu gosto de ser mulher, também aprendi a gostar de coisas bem femininas, aliás, dizem que ninguém é mais que eu... Gosto do contraste...
Pra fechar a tarde, acho que essa trilha sonora combina:
Bookeds - Simon & Garfunkel
A time it was
It was a time
A time of innocence
A time of confidences

Long ago it must be
I have a photograph
Preserve your memories
They're all that's left you

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